CHAMADA PÚBLICA Vol. 2, N. 3, jun - dez/ 2020
Dossiê: Desafios e protagonismos de grupos marginalizados
A Revista HUMANA RES, coordenada pelo Núcleo de Estudo em Estado Poder e Política – NEEPP e com responsabilidade administrativa do Centro de Ciências Humanas e Letras, do Campus Poeta Torquato Neto, da Universidade Estadual do Piauí, torna pública a chamada Pública para o Vol. 2, N. 3, jun - dez/ 2020, visando a seleção de artigos que irão compor o dossiê temático: “Desafios e protagonismos de grupos marginalizados”, sob organização dos seguintes coordenadores:
Dr. Fernando Bagiotto Botton (UESPI)
Dr. João Paulo Peixoto Costa (IFPI)
Dr. Edson Silva (UFPE)
A historiadora norte-americana Natalie Davis publicou em 1995 o livro Nas margens, discutindo a trajetória de vida de três mulheres: uma judia comerciante em Hamburgo/Alemanha, uma freira professora de mulheres indígenas nos Estados Unidos e uma pintora naturalista que realizou pesquisas nas florestas do Suriname. Possivelmente pouco conhecida pela nova geração de pesquisadores/as, Natalie Davis foi perseguida, o marido preso, sendo acusados de comunistas nos anos 1950 durante o Macarthismo, a onda conservadora norte-americana de “caça às bruxas” denunciando as pessoas de subversão e traição à pátria.
A pesquisadora notabilizou-se por pesquisar e publicar, o que também foi seguido por grupos de historiadorxs, cientistas sociais, antropólogxs, filósofxs, psicólogxs sobre temas até então pouco estudados, como cotidiano de trabalhadores, camponeses, pessoas comuns e cultura popular, que foram chamados por E. P. Thompson como “a História vista de baixo”. Estando às/nas margens, nas periferias, “fora do lugar”, como intitulou o livro sobre sua trajetória e memórias, Edward Said, assumidamente palestino, reconhecido crítico literário e professor por muitos anos nos Estados Unidos. Ou seja, pensando não a partir da vitimização ou da perspectiva do dominador, mas evidenciando os protagonismos, as estratégias, “a arte de resistências à dominação”, em práticas que de certa forma subverteram a ordem então vigente, como escreveu o cientista político e antropólogo norte-americano James Scott em estudos sobre camponeses.
É nessa perspectiva que propomos esse dossiê amplo, plural e diversificado, aberto à todas as ciências humanas, psicológicas, sociais aplicadas, letras e artes aguardando textos que discutam experiências, vivências e situações individuais ou coletivas, nos universos urbanos ou rurais, tratando de diferentes relações de pessoas ou grupos como ciganos, mulheres negras e indígenas, pessoas idosas, surdas, obesas, queer, pessoas com deficiências, crianças, adolescentes, LGTBI+, migrantes, exiladxs, refugiadx, moradorxs de rua, anônimxs consideradxs “párias”, desclassificadxs, gente pouco importante vivendo naquilo que lhes foi relegado e simbolizado enquanto as margens da sociedade. A nosso ver, com as reflexões apresentadas estaremos contribuindo para outros olhares para as Ciências Humanas e Sociais e o nosso compromisso no agir para a construção de um mundo sem marginalizações.
Nesse sentido é politicamente importante compreendermos o caráter ambíguo do termo “minorias” ou “marginal” uma vez que, em primeiro lugar, qualquer censo brasileiro demonstra que essa população dita minoritária é numericamente superior às camadas brancas, cis-heterossexuais, economicamente bem-sucedidas e portadoras de poderes políticos e simbólicos. Além disso, num cenário de multiperspectivas socioculturais é muito complexo definir espaços de centralidade, em qualquer âmbito dado uma vez que se parte de uma cartografia do dominador, constituindo as fronteiras do central e do periférico. Dessa forma, esses grupos pretensamente minoritários ou marginais são também estrategicamente plurais, representantes da complexidade e da sociodiversidade de distintos povos, símbolos vivos de resistências e afirmações de projetos contra-hegemônicos, de(s)coloniais e politicamente questionadores de uma falaciosa ilusão de igualdade universalista e liberal, que seria abrangente à todas as populações, seja pelo mito individualista da ação empreendedora, seja pelo mito da igualdade de oportunidades e pontos de partidas virtualmente igualitários. Se são considerados aqueles que andam pelas margens é porque foram marginalizados em suas distintas experiências históricas, conceituais, simbólicas, sociais e, compreender as origens de tais processos de maginalizações pode auxiliarmos na desconstrução do processo de constituição social, política e discursiva da minoridade, da marginalidade e da exclusão.
Cronograma
Lançamento da chamada para o dossiê: 02 de julho de 2020
Prazo para a submissão dos artigos - 02 de julho até 04 de outubro de 2020
Divulgação dos artigos aprovados – 20 de outubro de 2020
Publicação da revista com o dossiê – 07 de dezembro de 2020